ESCOLHAS E PREDILEÇÕES
Prefiro o silêncio dos quartos
que a zoeira agitada dos bares
Prefiro
gente com nomes
que o anônimo genérico da humanidade
as letras dos livros
que a voz molhada das bocas
os desertos das madrugadas
que as romarias suadas do meio-dia
Prefiro
a diferença entre os inversos
que o antagonismo dos opostos
o rosto lavado das crianças
que as máscaras polidas dos adultos
o abanar dos rabos dos cachorros
que o passear entre as pernas dos gatos
Prefiro
os fantasmas das casas mal-assombradas
que o alvoroço dos blocos de carnaval
a espontaneidade dos descamisados
que o cerimonioso das gravatas
o amor próximo das pequenas coisas
que as indiferenças distante dos panteões
Prefiro
o desassossego das interrogações
que a brandura aquietada das certezas
a nudez bronzeada das praias
que o forro escuro dos asfaltos
o sal sequioso e embriagado dos petiscos
que o deleitoso açucarado das sobremesas
Prefiro
a dúvida das encruzilhadas
que a retitude monótona das retas
o destoante das heterogeneidades
que o unidimensional das homogeneidades
ajoelhar-me humilde aos deuses
que abaixar a cabeça aos autoritários
Prefiro
preferir o que prefiro
mas há quem prefira o contrário
e é no juntar das singularidades
que se faz toda uma pluralidade