ESCOLHAS E PREDILEÇÕES

Prefiro o silêncio dos quartos

que a zoeira agitada dos bares

Prefiro

gente com nomes

que o anônimo genérico da humanidade

as letras dos livros

que a voz molhada das bocas

os desertos das madrugadas

que as romarias suadas do meio-dia

Prefiro

a diferença entre os inversos

que o antagonismo dos opostos

o rosto lavado das crianças

que as máscaras polidas dos adultos

o abanar dos rabos dos cachorros

que o passear entre as pernas dos gatos

Prefiro

os fantasmas das casas mal-assombradas

que o alvoroço dos blocos de carnaval

a espontaneidade dos descamisados

que o cerimonioso das gravatas

o amor próximo das pequenas coisas

que as indiferenças distante dos panteões

Prefiro

o desassossego das interrogações

que a brandura aquietada das certezas

a nudez bronzeada das praias

que o forro escuro dos asfaltos

o sal sequioso e embriagado dos petiscos

que o deleitoso açucarado das sobremesas

Prefiro

a dúvida das encruzilhadas

que a retitude monótona das retas

o destoante das heterogeneidades

que o unidimensional das homogeneidades

ajoelhar-me humilde aos deuses

que abaixar a cabeça aos autoritários

Prefiro

preferir o que prefiro

mas há quem prefira o contrário

e é no juntar das singularidades

que se faz toda uma pluralidade

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 30/10/2022
Reeditado em 30/10/2022
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