Dentro do sonho
Instigado por um sonho doido, escrevo
A inspiração se escorre pelo bueiro do cotidiano
Opressão me persegue pelos cantos da casa
Agora enquanto escrevo com desespero estas palavras
No ar, o cheiro peculiar de todo dia de manhã de trabalho
De sons renitentes, zumbidos impertinentes
Estalo de horas que me derrubam do cavalo
E se destroçam no chão dos dias iguais
Lavo o corpo, ergo a cabeça
Para o inevitável vazio
Tudo se acaba como um desfecho de sax
Como a descarga do vazo
E os aplausos inócuos de quem nunca conheci
Quero ser como os filmes do Tarantino
Que se beijam e se combinam com a loucura do criador
Enquanto criatura turva a bailar no universo de toda tontura
Quero um amigo, um sequer que possa compartilhar o velho novo
Do mundo dinâmico, para lá de cruel
Mas só no sonho consigo fugir da mesmice
Culpo ninguém, todos cooptados pela mesquinhez diuturna
Com seus dentes e unhas afiados
Sua boca violenta e seus filmes de terror
Os caminhos traçados me levaram ao buraco de sempre
Desde que nasci
E não adianta chorar
Destilo palavras, ilusões e nada
A estrada empoeirada e sombria
Ainda não disse a que veio
Só a vejo passar