Dentro do sonho

Instigado por um sonho doido, escrevo

A inspiração se escorre pelo bueiro do cotidiano

Opressão me persegue pelos cantos da casa

Agora enquanto escrevo com desespero estas palavras

No ar, o cheiro peculiar de todo dia de manhã de trabalho

De sons renitentes, zumbidos impertinentes

Estalo de horas que me derrubam do cavalo

E se destroçam no chão dos dias iguais

Lavo o corpo, ergo a cabeça

Para o inevitável vazio

Tudo se acaba como um desfecho de sax

Como a descarga do vazo

E os aplausos inócuos de quem nunca conheci

Quero ser como os filmes do Tarantino

Que se beijam e se combinam com a loucura do criador

Enquanto criatura turva a bailar no universo de toda tontura

Quero um amigo, um sequer que possa compartilhar o velho novo

Do mundo dinâmico, para lá de cruel

Mas só no sonho consigo fugir da mesmice

Culpo ninguém, todos cooptados pela mesquinhez diuturna

Com seus dentes e unhas afiados

Sua boca violenta e seus filmes de terror

Os caminhos traçados me levaram ao buraco de sempre

Desde que nasci

E não adianta chorar

Destilo palavras, ilusões e nada

A estrada empoeirada e sombria

Ainda não disse a que veio

Só a vejo passar

Daribe Simbar
Enviado por Daribe Simbar em 27/10/2022
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