quarto morto
daquele ano só uma
manha clara na memória,
onde eles dormiam, a solidão
era minha irmã mais colorida,
a fome, a saudade, a vida
dispersa entrando pelos buracos
na janela.
no meio da sala de estar
um menino abre os olhos,
um vulto, um cuspe no coração
do corpo, um tremor onde a luz
disse o indizível: nada além do
que está ali diante do mistério
depois, a noite, a longa
noite dos que não sabem,
a noite dos que para os outros,
desolada, mas quem nela habita
nada mais que um quarto morto