Tarde

É mesmo tarde; tempo de depuração.

As palavras caem lavando o chão da casa empoeirada

Os cães uivando alhures arranham a penumbra

E já vão tomando novas formas os objetos crepusculares.

Os tons da lua refletida no lago se aprofundam em turbilhões espiralados

A noite exibe sua cauda espalhada pela escuridão

E as palavras deste poema se debruçam como um véu

Um cobertor de sonhos que desliza entre as frestas das coxas

De alguém que não já sou; súbito, um outro me toma.

É mesmo tarde; tempo de destituição.

A cintilância de teus olhos petrolíferos penetra o espaço destes versos

E tudo está manchado, tudo são negras manchas reluzentes em contraste

Com a claridade do dia, que já vem chegando

Inundando nossas pálpebras encobertas.

É mesmo tarde, tão logo o alvorecer se descortinará

E não sabemos ainda o que fazer dele:

O dia de amanhã, atravancado no horizonte.

pedro toscan
Enviado por pedro toscan em 25/10/2022
Reeditado em 09/01/2023
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