BEM DE PERTO

daqui só vejo a folhagem,

a miopia me poupa do que está além.

me importa apenas a gota de café no pires,

ali, interrompendo a brancura da louça,

tão perto que nem parece imagem,

clamando para que alguém a ouça.

daqui não leio paredes,

a miopia me protege do mundo lá fora.

me atrai o semi-brilho da colher sobre a toalha,

ali, falsa prata concorrendo com frutinhas bordadas,

uvas outrora roxas, cerejas pálidas, folhas verdes,

todas muito gastas, alvejadas.

daqui não reconheço semblantes,

para a miopia todos são estranhos

mas a reconheço numa foto de onde uma segunda pessoa fora recortada

ali, misturada ao entulho sentimental que carrego na carteira.

olhando mais perto tento adivinhar aquele instante,

entender o sorriso que você carregava faceira.