OUTUBROS

O verso é uma porta entreaberta.

Na sauna das vinte, apenas resta

e, enfim, é o meu ofício de poeta

— esta escolha vitalícia e incerta,

a única que me coube, incompleta.

A sós, na penumbra vinda da janela,

disparo nas incertezas que aparecem,

entre a paleta roxa do morro, na tela,

e as alvenarias desta cela de concreto,

dentro do vapor acelerado do cérebro.

Às duas, ouço os silêncios da orquestra

muda, e plena de pausas, na primavera

nova — às quatro e meia já amanhece,

e ocres cortam a cúpula do hemisfério.

Não sei qual é o destinatário… Eu só peço

para tudo acabar. E que amanhã recomece.