VAGAMUNDO
Vagamundeava pela vida sem destino
sem eira nem beira ou tribeira
trazendo consigo uma pequena sacola
onde guardava pedaços rasgados de si
e alguns poucos retalhos de sua história
Nunca incomodava ninguém
apenas passava pelas praças e calçadas
feito finais das tardes que sempre se vão embora
De onde veio não se sabia
para onde vai não se sabe
mas todos os dias retornava
carregando no ombro sua pequena sacola
Como um Caetano envelhecido
ia sempre de encontro ao vento
sem portar nada nos bolsos
da camisa e da calça
nem sequer tinha carteira de identidade
E lá vinha e lá ia o vagamundo
atravessando o meio da cidade
que como uma esfinge muda e calada
ninguém o desvendava ou o decifrava
mas também ele nada perguntava
Toda cidade, vila, bairro e povoado
tem seu vagamundo caminhando às tardes
e se você ainda não viu
olhe melhor aos seus lados
pois ali deve estar um vagamundo esquecido
passeando invisível pelas calçadas