VAGAMUNDO

Vagamundeava pela vida sem destino

sem eira nem beira ou tribeira

trazendo consigo uma pequena sacola

onde guardava pedaços rasgados de si

e alguns poucos retalhos de sua história

Nunca incomodava ninguém

apenas passava pelas praças e calçadas

feito finais das tardes que sempre se vão embora

De onde veio não se sabia

para onde vai não se sabe

mas todos os dias retornava

carregando no ombro sua pequena sacola

Como um Caetano envelhecido

ia sempre de encontro ao vento

sem portar nada nos bolsos

da camisa e da calça

nem sequer tinha carteira de identidade

E lá vinha e lá ia o vagamundo

atravessando o meio da cidade

que como uma esfinge muda e calada

ninguém o desvendava ou o decifrava

mas também ele nada perguntava

Toda cidade, vila, bairro e povoado

tem seu vagamundo caminhando às tardes

e se você ainda não viu

olhe melhor aos seus lados

pois ali deve estar um vagamundo esquecido

passeando invisível pelas calçadas

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 18/10/2022
Reeditado em 18/10/2022
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