Não tenho medo do escuro
Não tenho medo de escadas
Não tenho medo de sonhos
Não tenho medo de nada.
O pesadelo que assola a noite
Transformo em informação deletada
Não me assustam os olhares de censura
Não tenho medo do medo e nem de nada.
Não tenho medo da solidão
Não me assustam os presságios sagrados
Não tenho medo de ser quem sou
Embora seja bem menos que o esperado.
Não tenho medo da morte
Não tenho medo da dor
Há muito quebrada a bússola
Esqueci do norte redentor.
Não tenho medo do desamor
Porque o amor sempre nega-se a si mesmo
Não tenho medo de calar-me quieto
Ante a transparência dos espelhos.
Não tenho medo da nudez
Aquela que nos expõe a chaga máxima
Porque feridos estamos e seremos
Pela crueldade que nos assola e mata.
Não tenho medo de esperar
E, esperando, reconstruir paisagens
Ouvindo o coração bater alegre
Nas varandas de todas as cidades.
Não tenho medo de estender a mão
E consumar o ato preciso da entrega
Não tenho de medo de ser rechaçado
Pela cegueira do outro que não me enxerga.
Não tenho medo de erguer a ponte
Entre meu olhar e o horizonte
De seguir em frente, inspirado
Não tenho medo de ser sacrificado.
Esqueci o medo de unir palavras
E unindo-as, dizer o que me conduz
Não tenho medo das trevas
Não tenho medo da luz.