ELEGIA AO CORPO
Agradeço ao corpo seus serviços prestados
os prazeres carnais que me foram dados
as tantas fomes muitas vezes saciadas
os hormônios sexuais agitados
todos os pecados inconfessados
e os olhos com os quais furtei madrugadas
Se não fosse ele não teria andado
pelos caminhos certos e errados
construídos trilhas, pontes e atalhos
chegado mais perto e próximo dela
ter amado com a verdura dos jovens animais
e adormecido aninhado em abraços suados
Devo ao corpo os anos passados
a meninice um dia dele arrancado
as peladas inúmeras vezes jogadas
os joelhos machucados encobertos e pintados
com o vermelho esmaltado dos mertiolates
Sem seus ouvidos não haveria escutado
Bach, Beethoven, Chopin e Vivaldi
conhecido os Beatles, Vinicius e Chico Buarque
e dançado a valsa insana dos apaixonados
nos juvenis bailes anteontem encantados
Com suas mãos desenhei árvores
arco-íris, florestas, rostos e carros
pincelados com as cores dos lápis crayon
e com as palavras, versos e frases
escrevi(o) poemas e prosas, fazendo-me poeta
Agora em que ele está triste e velho
não mais escondendo de mim a morte
cabe-me respeitá-lo no altar das idades
e saber ainda dele dispor e aproveitá-lo
em tudo em que nele é versado
sabedor, sabido, preparado e sábio
Obrigado meu corpo
sem você eu seria um sonho irrealizado