ELEGIA AO CORPO

Agradeço ao corpo seus serviços prestados

os prazeres carnais que me foram dados

as tantas fomes muitas vezes saciadas

os hormônios sexuais agitados

todos os pecados inconfessados

e os olhos com os quais furtei madrugadas

Se não fosse ele não teria andado

pelos caminhos certos e errados

construídos trilhas, pontes e atalhos

chegado mais perto e próximo dela

ter amado com a verdura dos jovens animais

e adormecido aninhado em abraços suados

Devo ao corpo os anos passados

a meninice um dia dele arrancado

as peladas inúmeras vezes jogadas

os joelhos machucados encobertos e pintados

com o vermelho esmaltado dos mertiolates

Sem seus ouvidos não haveria escutado

Bach, Beethoven, Chopin e Vivaldi

conhecido os Beatles, Vinicius e Chico Buarque

e dançado a valsa insana dos apaixonados

nos juvenis bailes anteontem encantados

Com suas mãos desenhei árvores

arco-íris, florestas, rostos e carros

pincelados com as cores dos lápis crayon

e com as palavras, versos e frases

escrevi(o) poemas e prosas, fazendo-me poeta

Agora em que ele está triste e velho

não mais escondendo de mim a morte

cabe-me respeitá-lo no altar das idades

e saber ainda dele dispor e aproveitá-lo

em tudo em que nele é versado

sabedor, sabido, preparado e sábio

Obrigado meu corpo

sem você eu seria um sonho irrealizado

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 15/10/2022
Reeditado em 20/10/2022
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