UM GRITO NO ESPAÇO

Da tarde os últimos suspiros

Anunciam a chegada da noite.

Só, mergulhada no mistério da vida,

Subo ao alto do morro

E, curiosa, contemplo o espaço:

Arranha-céus, mansões, flores...

Bem perto, bem junto,

Quase mesmo em simbiose,

Um amontoado de barracos:

Tábuas, tabiques, tijolos, telhas,

Tudo empilhado,

Gente empilhada,

Crianças maltrapilhas,

Desnutridas,

Sujas...

Alguns ruídos minha atenção despertam.

A princípio, vagos, confusos, distantes...

Apenas um ritmo forte se distingue.

Aos poucos se transformam

Em canto de esperança,

Em grito de socorro,

Em apelo

Ao Criador.

É o som, sofrido, solitário, soluçante,

Do sonho inatingível

Da igualdade e do amor.