NÃO ME ESPERE
Não me espere depois da madrugada
e nem após o inverno passar
Meus outonos há muito te avisaram
e se não vistes é porque teus olhos
vivem encandeados de verão
Já colhemos as flores das primaveras
das plantas que havíamos fincados
no terreno em que nossos pés
pisaram como sonhos de algodão
Já caminhamos na superfície do mar
e voamos juntos em bolhas de sabão
dando voltas ao mundo que nem peão
Já fundimos os lábios da boca
em um demorado beijo interminável
enquanto as idades dilatavam
as estações ciclicamente mudavam
e de juventude não morreremos mais
E se hoje aqui estou e tu estás
foi porque tecemos estrelas
nos tecidos de nossas roupas
que nenhuma noite sem luar
irá de nós sequer apagar
Não me espere depois da madrugada
e nem após o inverno passar
pois estou presente ao teu lado
desde aqueles anos que vieram
do século passado e jamais
por mim, por ti, por nós
e pelas nossas mãos entrelaçadas
foram deixados nem um instante para atrás