NÃO ME ESPERE

Não me espere depois da madrugada

e nem após o inverno passar

Meus outonos há muito te avisaram

e se não vistes é porque teus olhos

vivem encandeados de verão

Já colhemos as flores das primaveras

das plantas que havíamos fincados

no terreno em que nossos pés

pisaram como sonhos de algodão

Já caminhamos na superfície do mar

e voamos juntos em bolhas de sabão

dando voltas ao mundo que nem peão

Já fundimos os lábios da boca

em um demorado beijo interminável

enquanto as idades dilatavam

as estações ciclicamente mudavam

e de juventude não morreremos mais

E se hoje aqui estou e tu estás

foi porque tecemos estrelas

nos tecidos de nossas roupas

que nenhuma noite sem luar

irá de nós sequer apagar

Não me espere depois da madrugada

e nem após o inverno passar

pois estou presente ao teu lado

desde aqueles anos que vieram

do século passado e jamais

por mim, por ti, por nós

e pelas nossas mãos entrelaçadas

foram deixados nem um instante para atrás

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 14/10/2022
Reeditado em 14/10/2022
Código do texto: T7627136
Classificação de conteúdo: seguro