O Morcêgo (Augusto dos Anjos, 1912)

O Morcêgo (Augusto dos Anjos, 1912)

Meia noite. Ao meu quarto me recolho.

Meu Deus! E este morcêgo! E, agora, vêde:

Na bruta ardencia organica da sêde,

Morde-me a guéla igneo e escaldante môlho.

«Vou mandar levantar outra parêde.»

— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho

E olho o tecto. E vejo-o ainda, igual a um olho,

Circularmente sobre a minha rêde!

Pégo de um pau. Esforços faço. Chego

A tocal-o. Minh’alma se concentra.

Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcêgo!

Por mais que a gente faça, á noite, elle entra

Imperceptivelmente em nosso quarto!

Fonte: https://pt.wikisource.org/wiki/Eu_(Augusto_dos_Anjos,_1912)/O_Morc%C3%AAgo

Declamação da poesia no link: https://www.youtube.com/watch?v=CBneBFYgktI

Augusto_dos_Anjos
Enviado por CEJA VO em 13/10/2022
Código do texto: T7626705
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