Tropicalia
Não vim pra julgar/
Sou um mero ferreiro/
A olhar entristecido/
Todo esses maus/
Não tenho mais o que dizer/
Tudo, tudo já foi dito/
O mar que corre/
Pra sombra/
O céu que deita no horizonte/
A flor que se apagou/
Perdeu a beleza e o palor/
O homem teimoso como sou/
E a mulher lindamente linda/
Então vou fazer diferente/
Vou ser nocivo/
Quem sabe agressivo/
Pois é aí/
Que a turma gosta/
Mas e aí que mora o perigo/
O mundo estilizado está dizendo/
Que o livro está ultrapassado/
Que nossa divindade/
É simplória/
Que só há arte na história/
Quando se permite mentir e pecar/
Nossa sociedade acredita/
Que liberdade e viver em excesso/
Que ter família é retrocesso/
Que um baseado/
É avanço de um tempo /
Que só proibia e reprimia /
E que por isso /
Devemos adorar o inverso/
É um jeito de olhar/
É um certo tom no ar/
O que se ver/
Se acredita/
O coração se tornou objeto/
Ninguém ama como um processo/
O amor no estado normal/
É um passado banal/
Pra ser alegria, alegria/
Tem que ter fantasia/
É sair da rotina /
Pra ser feliz na urgia/
Onde está a cura que os cego não veem/
É tanto egoísmo com vaidade/
É tanta ambição com luxúria/
Que escureceu os dias/
Esse sistema que obriga/
Que desvia a conversa/
Que faz a luz parecer loucura/
Se olharmos ao redor/
Há medo e insegurança/
Como num estado de guerra /
Uma mãe hoje/
Em sã consciência põe/
Um filho nessa ciência/
Só podia ser mulher/
Por coragem nessa decadência/
Por todas as letras/
Pela realidade dos tons/
Pelo espelho da cor/
Já nem sei quem sou/
Em que se acredita/
Na política que objeta/
Na realidade seleta/
Nessa dor que alfineta/
No carnaval como cartão as visitas/
Diante do caos/
Diante dos maus/
O que se vislumbra/
Perder a razão é o fenômeno local/
Insanidade é ser normal/
Desonestidade imoral/
É o tema nacional/
Há algum sentido em ser anormal/
Penso/
Quando pensava/
Que o meu organismo era funcional/
Agora reativo a todo esse mal/
Nem sei se na comida ponho sal/
Meu violão/
Feri os sentidos/
Meus carinhos são banidos/
Porque a musa é de outro partido /
Como será respeitar/
Os radicais liberais/
Liberais radicais/
Como será viver sem paredes e ouvidos
Na caverna das ruas/
Ninguém , ninguém/
Andando como antes/
Na cartilha de Dantes/
A bem do fim /
Porque o ser humano é assim/
Meio que letal/
Nasce do amor/
Mas se permite ao mal/
Põe a arrogância acima da moral/
Veem a luz desde criancinha/
Mas teimam em cultivar a escuridão/
Querem impor o meu astral/
Porque acham que o inverso/
Do contrário é a república /
De vanguarda/
Quero sim e não/
Quero amor mais que paixão/
Dizer por aí o que penso/
Sem sofrer restrições/
Ver o sorriso de manhã/
Como na infância/
Assistir o beijo do sol/
Na natureza/
Ouvir o canto dos pássaros/
Nunca me canso de ver a lua do quintal/
E você/
Se pensar ou tem a cor diferente/
Deixa de ser gente/
A hipocrisia é um traço cultural/