NO PANTEÃO DOS DEUSES

Em uma sala esfumaçada

no fim do corredor do Panteão à esquerda

velhos deuses decidiram que eu iria nascer

Afrodite me queria uma bela menina

talvez aloirada com cabelo esvoaçados

como se fosse em um quadro de Botticelli

Já Ares me pensava guerreiro

um tanto bruto, brabo e selvagem

e ainda, quem sabe, ser

um dia reconhecido e admirado em Esparta

Ártemis me projetava caçador

naturalista, botânico ou zoologista

e que eu devia viver como iria nascer

casto, puro, virgem e ilibado

analfabeto e também iletrado

Dionísio, por sua vez, vociferava e dizia

que eu devia ser festeiro e viver na boemia

gostando de beber vinho, cerveja e de alegria

Apolo julgou que eu podia ser arqueiro

que envelheceria jovem por dentro

pois seria amante inveterado das artes

da filosofia, da verdade, dos livros e da poesia

Mas Zeus em toda sua poderosa sabedoria

me fez foi nascer brasileiro e nordestino

neto de português e com olhos claros

e ser filho de escritor pernambucano mulato

Eu fui feito da gema do ovo

que na água quente em panela de barro

foi cozinhado de avesso e ao contrário

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 09/10/2022
Reeditado em 09/10/2022
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