NO PANTEÃO DOS DEUSES
Em uma sala esfumaçada
no fim do corredor do Panteão à esquerda
velhos deuses decidiram que eu iria nascer
Afrodite me queria uma bela menina
talvez aloirada com cabelo esvoaçados
como se fosse em um quadro de Botticelli
Já Ares me pensava guerreiro
um tanto bruto, brabo e selvagem
e ainda, quem sabe, ser
um dia reconhecido e admirado em Esparta
Ártemis me projetava caçador
naturalista, botânico ou zoologista
e que eu devia viver como iria nascer
casto, puro, virgem e ilibado
analfabeto e também iletrado
Dionísio, por sua vez, vociferava e dizia
que eu devia ser festeiro e viver na boemia
gostando de beber vinho, cerveja e de alegria
Apolo julgou que eu podia ser arqueiro
que envelheceria jovem por dentro
pois seria amante inveterado das artes
da filosofia, da verdade, dos livros e da poesia
Mas Zeus em toda sua poderosa sabedoria
me fez foi nascer brasileiro e nordestino
neto de português e com olhos claros
e ser filho de escritor pernambucano mulato
Eu fui feito da gema do ovo
que na água quente em panela de barro
foi cozinhado de avesso e ao contrário