NO TOPO DA VARANDA DO MUNDO

Da varanda do mundo

alguém observa de cima

a madrugada encobrindo a cidade

Nas ruas desertas de carros

fantasmas vagueiam pelas passagens

libertos dos vivos que agora dormem

no silêncio dos quartos apagados

Sonhos se esvaem e se dispersam

por entre as frestas das janelas

como vapores d’águas emanados

no condensar das nuvens vindouras

Da sacada de onde o mundo começa

se pode ver a cabeça dos bêbados

e dos demais parcos andarilhos noturnos

que insones, sequiosos e ávidos

buscam sugar os negrumes sobrantes

antes que o sol lhes devore a noite

quando o dia no horizonte despontar

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 07/10/2022
Reeditado em 07/10/2022
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