AO DOCE ENVELHECER
Dá pra sentir que tantos anos passaram em cada poro, em cada osso, em cada respirar.
Percebemos a alma mais sábia e o caminhar menos rebarbado, menos trêmulo, menos sofredor.
Olhar as pegadas enche de prazer e mérito.
As medalhas mal cabem no peito, os calos e cicatrizes também.
Especialmente os calos e cicatrizes.
Saber que o tempo já sinaliza que vai findar, assusta um pouco e sugere desperdiçar menos passos, menos incertezas, menos quereres inócuos, menos tudo.
O tom da missão agora chama ao desfrute, ao degustar da colheita, ao nada fazer mais.
Passamos a olhar o entorno com mais carinho, cuidado e profunda atenção,
especialmente os frutos, reforçando a acolhida, o amor e o legado.
Assim vamos tocando o barco, até onde o rio permitir, quando passaremos
a ser saudade, exemplo e eco. Talvez tudo isso, talvez nada disso, vai saber.
Assim poderão baixar as cortinas e apagar as luzes do palco e plateia até marcarem a estreia da nova temporada.