DIÁRIO DA VIDA

Autoria Regilene Rodrigues Neves

Quantas vezes à noite

Ouvira em silêncio

O pedalar da máquina de costura

Sobrecarregada da exaustão

De minha amada mãezinha...

De olhos fundos penetrantes na vida

Ganhando o sustento dos sete filhos...

O clarear contínuo das manhãs

Misturavam-se aos pores de sóis

Fundidos noutras noites silenciosas

Para que o pão não faltasse no dia a dia...

E a sobrevivência visse crescer

Os pequeninos sonhos

Vestidos de inocência

Que um dia iriam lhe aliviar

Daquela estafante luta

De uma gigante mulher

Escolhida para vencer guerras

De justiça e humanidade!

O berço trazia o cobertor

Aquecido de caráter e dignidade.

As marcas

Sofriam da ignorância paterna

Feitas pelos vícios da matéria...

Lembranças cheias de lágrimas

Que nas mesmas noites

Ouviam também os maus-tratos

Do marido agressivo e violento

Naquele corpo já calejado de tanto sofrer...

A dor ultrajava a face

Que se calava

Na vergonha da humilhação

A pronuncia da palavra

Era somente de fé

Que em orações entregava-se ao seu porvir...

Deus era o céu

Que ouvia suas súplicas em preces

Fortalecendo todo aquele cálice de sangue...

O tempo que fez todas as feridas

Também as cicatrizaram

Deixando para trás

Lembranças daquele maldito passado...

A força e a fé

Criaram aqueles destinos

De olhares sôfregos

E maus-tratos no corpo e na alma.

A maior herança

Recebemos desta guerreira.

Quando diante das adversidades

Guiando-me não pelos sofrimentos,

Mas pela mesma fé e coragem

Que o tempo às viram vencer...

Diante dos destroços erguera-se um futuro

Que também vira nascer flores entre as pedras

Bastara espelharmos não nas desgraças,

Mas que delas poderíamos construir jardins...

Assim exalamos o perfume das lições

Aprendendo com sabedoria nossas dores

Para não fazermos delas mártires,

Mas grandes mestres

Elevando nossas gerações

A uma lembrança de grandes guerreiros da fé!

Em 24 de novembro de 2007