AGORA AGORA AGORA

para

tudo que você está fazendo e vem

agora

não é tempo de colecionar pedras insignificantes

ou consultar dicionários empoeirados

nem oráculos ou elfos

agora é hora de ir às pedras com outras finalidades

pegar poemas de revolta

os poemas-manifesto, os poemas feitos de sangue

da fome, seiva e suor

e socar e sovar sovar e socar

até não ser mais que um poema pronto

puro e a ponto de ser reescrito comido bebido

agora é um tempo dos que não têm mais tempo

a esperar

agora não é mais a hora de erguer monumentos

à fome

é hora de combater a fome, comer a fome

lamber lágrimas com a língua

com lenços com o dorso das mãos,

com o resto de pano de bandeiras encardidas

para tudo o que você está fazendo

e vem

agora é o dia do pós-mártir

aquele que ora de olhos abertos

medita sob o mantra das rajadas

das metralhadoras de seus inimigos

dorme com seus olhos abertos

a boca fechada

os ouvidos atentos

agora aqui hoje

não é dia de exercitar sua revolução burguesa

compor hinos em louvor ao herói vencido

rabiscar poema de contemplar a ação

e levar amantes a motéis

não é a hora de escrever epitáfios

não é momento de muros de lamentações

ou murros

(o corpo a ser oferecido hoje

é o de sobrevivente)