NUNCA MAIS

Nunca mais te vi passar

pelos entremeios dos minutos

cortando os recintos como as tardes

que por mim sempre passam

Nunca mais teu olhar noturno

me viram dormir alheio

aos fantasmas do quarto

que tu antes havias enxotado

Nunca mais teus dedos afiados

escorreram pelos meus cabelos

oxigenados de auroras e mocidade

penteando-os com finos dentes de eternidade

Nunca mais teu cheiro de bergamota

encorpado de jasmins e rosas

adocicaram o ar respirado

perfumado agora de vãos e vácuos

Nunca mais teu rosto ao espelho

poderá me avistar a te mirar

nas vezes em que me vejo te olhando

nos fundos esverdeados dos meus olhos

que são de ti minha mais fiel e leal lembrança

Nunca mais te ouvi falar

com o timbre firme das vozes claras

a me aconselhar para ter cuidado

para não me perder, cair ou me machucar

Nunca mais vou te ver ir embora

deixando-me aqui tonto e desacompanhado

pois da vida só se some uma vez

e depois, mãe, nenhuma vez mais

nunca mais

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 29/09/2022
Reeditado em 29/09/2022
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