Olho a vidraça

Olho a vidraça

Olho

A vidraça

Desfocada

Pelo tempo

Que passa

Lento

Abraça

E não diz nada

Vejo

Um nevoeiro

Que descansa

Em ruas e vielas

De fechadas janelas

À neblina

Que sobre elas

Avança

Numa sonoridade fria

E arrastada

Sopra simplesmente

O desejo

Nesta nuvem

De ilusões

Plasmada

No meu corpo despido

De sensações tuas

Inerte

De um torpor quente

Imaginário

Circunscrito

Ao meu grito

Interior

Dolente

Fica um silêncio

De almas nuas

De ruídos

Diluídos

Na cronologia

Solitária

Que me agarra

Fica uma magia

Calada

De delírios

Que me transportam

Para o teu pensamento

Que simultaneamente

É o meu

Uma mistura

Abrangente

Que me aprisiona

A uma ternura

Que te tenho

Docemente!

Luísa Rafael

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Porto, Portugal