SOU DO VENTO

Sou do vento.

Das planícies quentes,

com ondas douradas,

irrequietas, nos trigais,

em eternos ciclos

de tombar e erguer,

constantemente.

Sou do vento.

Da poeira dos caminhos,

onde ninguém encontra

assinados os seus passos,

nas rotas fortuitas

dos regressos

acontecidos.

Sou do vento.

Da roupa ondulando

no corpo rijo,

como flâmulas

à beira dos precipícios,

nas montanhas ásperas

das minhas gentes.

Sou do vento.

Das palavras levadas longe

pelos trilhos das malícias,

em mistérios e enredos

muito maiores que o sopro

da minha ingenuidade

eternamente surpreendida.

Sou do vento.

Dos amores distantes

que só ousando se cumprem,

como destinos raros revelando-se

nos prêmios a que ninguém aspirou

por não saber tentar

convictamente.

Sou do vento.

Das águas que revolta,

que se erguem em muros altos

de verde esbatendo-se

em conflitos de transparência,

e das espumas brancas

gorgolejando mistérios de sal

Sou o Vento !

Novembro 2007