VELHACOS VENTOS

Vida expira quando sonhos rareiam,

fica rala, pálida, manca,

solenemente sem graça.

Daí o tempo se encabula, tonteia,

esquece o chão, a luz,

coalha de todo jeito.

Vida engasga quando o suor descamba,

desmorona sua alma, desencanta o rito,

escurece as varandas, entristece Deus,

como entristece Deus.

Nessas horas, os ossos se enfurecem,

ficam ranzinzas, viram velhacos ventos,

passam a azucrinar os passos, a razão,

afloram num ciclone sem par.

Então só resta baixar as cortinas,

desligar a luzes e deixar o barco à deriva.

Só resta dissipar os pensamentos, as rédeas

e rasgar a lição de casa.

Porque não há mais cheiro e nem quentura

para entreter as pétalas do querer-bem.

Porque a tristeza virá vencedora,

impávida, redomada,

infinitamente encardida.

Pronta para botar a coroa e desandar

no seu vasto relampejar,

na sua agigantada colherada de existir.

 

 

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 25/09/2022
Reeditado em 25/09/2022
Código do texto: T7613655
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