VELHACOS VENTOS
Vida expira quando sonhos rareiam,
fica rala, pálida, manca,
solenemente sem graça.
Daí o tempo se encabula, tonteia,
esquece o chão, a luz,
coalha de todo jeito.
Vida engasga quando o suor descamba,
desmorona sua alma, desencanta o rito,
escurece as varandas, entristece Deus,
como entristece Deus.
Nessas horas, os ossos se enfurecem,
ficam ranzinzas, viram velhacos ventos,
passam a azucrinar os passos, a razão,
afloram num ciclone sem par.
Então só resta baixar as cortinas,
desligar a luzes e deixar o barco à deriva.
Só resta dissipar os pensamentos, as rédeas
e rasgar a lição de casa.
Porque não há mais cheiro e nem quentura
para entreter as pétalas do querer-bem.
Porque a tristeza virá vencedora,
impávida, redomada,
infinitamente encardida.
Pronta para botar a coroa e desandar
no seu vasto relampejar,
na sua agigantada colherada de existir.