ÁLIBIS FEBRIS
As gotas de suor escorriam calidamente, anonimamente
Eram gotas valentes numa cruzada alucinada
Traziam uma empáfia tosca, desacelerada, arretada
Por vezes arriscavam um voo mais voraz, mais áspero
Mas seu cabresto cruel as freava sem hesitar
Gotas que entendiam meus medos como ninguém
Sabiam dos becos encardidos que guardava há séculos
E daquelas farsas abruptas, as tais criptas aflitas
Se faziam passar por gotas puídas, surradas
Se faziam ser incautas ciladas, atônitos álibis febris
Mas o tempo, dono de tudo, se fazia retinto, desacuado
Se dizia de passo austero, contido, comedido
Então me vi cravado nessas gotas, cravado pra valer
Chamei pela minha mãe, pelo meu Deus, e nada
Via saindo delas legiões de famintos zumbis
E desparafusados foliões barrigudos, desgarrados de mim
Via escorrendo delas as fantasias que temi untar
Via saindo delas as partes da alma que tanto repeli
Tanto excomunguei, tanto fingi aglutinar
Daí me fiz chorar, esvaindo uma cachoeira de dor atroz
Foi quando as gotas de suor se deram conta de mim
E se rebelaram daquela rasgada alegoria com raça, com bênção
Então só me restava render-me às sua sede, ao seu furor
Então só me cabia desanuviar aqueles sôfregos e desafinados chãos
Daí peguei cada gota pela mão e trouxe para o meu colo
Tirei um peito e lhe dei meu melhor leite, a mais apetitosa seiva
E dormi, quem sabe até morri, em paz