MOTE DO TEMPO: "O mundo só veio prestar/ Depois que eu num presto mais". Paralelo a um comentário de Neudson Costa

MOTE DO TEMPO

É um Mote allheio glosado por Valdir Loureiro

Contém 12 subtemas:

Menino, Namoro, Quarentena, Descontinuidade, Dotes, Voltas, Vilão, Folgazão, Fundo da rede, Tecnologia, Novidades e Conta "caixa".

GLOSA DO MOTE

1- Menino

Quando eu era meninote

Que brincava de correr,

Fazia em meu entreter

Um voo de águia ou capote.

E o meu tempo deu pinote,

Jogou-me nos areais,

Onde eu dei "pulos mortais",

Mas foi perdido o pular.

"O mundo só veio prestar

Depois que eu num presto mais."

2- Namoro

Namorada? Tive aquela

Que beijava como louca.

Depois que tirava a touca,

Virava princesa bela.

Mas era paixão singela

De dois ídolos joviais.

Dos meus beijos sensuais,

Quase eu não fui desfrutar.

"O mundo só veio prestar

Depois que eu num presto mais."

3- Quarentena

Com este mundo, eu me zanguei.

Porém não teve mais jeito.

Guardei a zanga no peito

Até quando me cansei.

Quatro décadas, eu contei;

Quarenta é dos numerais

Que fazem sofrer demais.

Eu não quero mais penar!

"O mundo só veio prestar

Depois que eu num presto mais."

4- Descontinuidade

Meu Deus, o que aconteceu

Com os préstimos da minha idade?

Essa descontinuidade

Jogada no tempo meu?

Por que o Senhor não me deu

Mais bênçãos celestiais?

Meus atrasos temporais,

Nem Jesus pôde esperar!

"O mundo só veio prestar

Depois que eu num presto mais."

5- Dotes

Quando eu era novo, tinha

A cara da Juventude,

De quem vendia saúde

Pelo preço de farinha.

Hoje, coitada da minha

Feição de enfermos mortais.

Meus dotes iniciais

Precisam recomeçar.

"O mundo só veio prestar Depois que eu num presto mais."

6- Voltas

O Mundo dá muita volta.

E eu dei muita volta ao Mundo.

Livrei-me de poço fundo,

Sendo corda que se solta.

Fiz mágica reviravolta

Nos meus balés teatrais.

E aos meus lances magistrais,

Eu quero logo voltar.

"O mundo só veio prestar Depois que eu num presto mais."

7- Vilão

Tive plena condição

De gozar a vida inteira.

Gostava da brincadeira

Do Folclore e de São João.

Mas enfrentei um vilão

Com as garras, faca e punhais

Que não me deixou brincar:

"O mundo só veio prestar Depois que eu num presto mais".

8- Folgazão

Bem que eu fui um folgazão.

Chamavam-me de galã.

Meu bairro todo era fã

Para ouvir minha canção.

Mas, quando eu quis ser campeão,

Cantando nos festivais,

Aí foi tarde demais

E nada pude mudar.

"O mundo só veio prestar Depois que eu num presto mais."

9- Fundo da rede

Hoje a vida está mudada;

O mundo é mais diferente

Com festa em muito ambiente,

Batuque em minha calçada.

Mas cadê a batucada

Dos meus gostos musicais?

Fundo da rede e quintais

São os cantos de eu dançar.

"O mundo só veio prestar Depois que eu num presto mais."

10- Tecnologia

E essa Tecnologia

Que mostra tudo na hora?

Eu nem preciso ir lá fora

Na busca de fantasia!

Buscapé tem nova guia...

Mas eu, sem sinais vitais,

Vou na busca de hospitais,

Querendo me consultar.

"O mundo só veio prestar Depois que eu num presto mais."

11- Novidades

Vejo o Estudo A Distância,

Mas eu não posso fazê-lo.

E a Miss Marvel, modelo?

Quero, mas é de outra instância.

É fácil ter elegância

Das vitrines atuais,

Mas lojas comerciais

No "shopping", eu nem sei achar.

"O mundo só veio prestar Depois que eu num presto mais."

12- Conta "caixa"

Tenho hoje um carro "zero",

Mas não posso dirigir.

Convite, para onde eu ir,

Vem quando menos espero.

Da conta "caixa", eu libero

Vinte milhões de reais;

Para quê? Nem funerais,

Posso eu acompanhar!

"O mundo só veio prestar Depois que eu num presto mais."

Valdir Loureiro

__________________________________

Para ver o comentário de Neudson Costa, que citou esse mote, clicar abaixo e abrir no Chrome:

https://www.recantodasletras.com.br/poesias/7610860.