Poemas minimalistas
LÁGRIMAS DESCALÇAS
A vida se esvai nos pés
descendo a ladeira das faces
As dores migradas...
Pago o pedágio pelos meus pecados,
mas sinto Deus nas costas
enquanto carrego minha cruz
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OUVIDOS MUDOS
O que os olhos escutaram
são segredos das cores.
O verde é meu país,
mas a falta de luz me faz ver que as coisas estão pretas.
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NOITE SONAMBÚLICA
A noite finge que dorme entre as estrelas
E eu finjo que sonho.
Cai orvalho debaixo das pálpebras...
É a morte dizendo que perdi mais um afeto.
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RESSURREIÇÃO
Um pedaço de pão molhado no vinho.
Dor no peito, morte certa.
A noite me assusta,
mas de manhã vou permitir que testemunhas me vejam sair do meu túmulo intacta
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MÃOS
Dedos que servem de abrigo a artrose
já foram rápidos na datilografia,
constantes nos afetos.
Hoje apenas dedos que rimam com medos.
E tudo passa num estalar de dedos