...SEGUNDOS

estava num dia qualquer

numa rua qualquer

num desses qualquer da vida

um tumulto a cem metros

passava sem muita preocupação

sem dar muita importância ao fato

de repente do meio de tudo e de todos

um elemento de arma em punho

faz a roda se abrir, se separar

e como que ensandecido

aponta-a em minha direção

sem notar continuo andando

até ouvir um grito

o disparo, o estampido,

o fogo cerrado da detonação

a bala, a corrida,

um átimo precipitando

tudo, tudo vindo em minha direção

a vida começa a correr

desnorteadamente a minha frente

uma corrida alucinada

embriagando as emoções, as tensões

com o desespero aflorando a pele

saltando à vista

mas imobilizando-me

frente ao eminente desfecho

túmulos se formavam à minha frente

e me via

desgraçadamente

envolto nesta névoa mortífera

e eu não encontrava forças

para lançar-me fora

desta alucinada floresta de pedra

onde nenhuma vida seria possível

e o trauma crescia, crescia,

emudecia, transbordava, jorrava,

sem sentido,

além dos limites normais do sofrimento

e me agonizava,

me torturava, me destroçava,

me enlouquecia, me transtornava,

e a bala se aproximava,

se aproximava,

feroz, voraz, indigesta,

destruidora, cortando o vento,

o espaço, o tempo,

para o seu impacto fatal

e uma eternidade se passava

mas na verdade nada se distanciava

de alguns poucos...

Peixão89

Peixão
Enviado por Peixão em 24/03/2005
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