ESCREVO PRA NÃO MORRER
Brincar com as palavras por vezes rasga,
faz trincar a alma, faz desabar sonhos,
faz sangrar até secar.
É jogo de guerra, feroz e indomável,
que sacode o chão mais e mais. E mais ainda.
Por outro lado, é néctar divino, raro,
banquete que nunca extasia,
nunca esmorece, nunca enjoa.
É um duelo sem fim com meus fantasmas,
meus algozes, minhas farsas e alegorias.
Nessa catarse de gozos e quitutes,
arranco de dentro o que tenho de mais lindo,
de mais raiz, de mais podre também.
Uma miscelânea de gostos, remendos e gingados
são chamados à briga e assim dão asas ao show.
Os prazeres se sobressaem às rebarbas,
posso desnudar e destilar cada fiapo do que sou,
ou do que mais gostaria de ser.
Nesse delicioso voar é que colho o empurrão
que me leva adiante.
Até onde as palavras deixarem ir.