eu tenho medo da dor da carne
eu tenho medo da dor da carne
eu tenho medo do sangue ostensivo jorrado do tecido rasgado
eu tenho medo da debilidade do osso exposto e explícito
eu tenho medo do fogo que consome pele e pelos
e transforma o corpo em cinza leve levada por uma palma de ar
eu tenho medo da urina e das fezes que sufocam a sobriedade
e anunciam o escândalo
eu tenho medo da voz que desaparece mesmo em grito
eu tenho medo do peso das horas
como um relógio gigante que cai do céu e esmaga
sem misericórdia a vida que se movimenta freneticamente