VOO SÁBIO
Vida travessa,
tantos véus, tantos beleléus,
tantos espasmos.
Vida insana,
nas peles, nos cantos tortos, nos versos,
nos desengates da razão.
Nessa vida bizarra e tosca,
o sertão da alma se amansa,
desarredia, destroça, descamba,
esmiúça o andar arredio.
Vida rebarbada, capenga, desafinada,
cantarola até a alma extasiar,
destila os poros da aflição dolente.
Daí os guizos desamotinam,
daí os versos se ajoelham,
daí o voo sábio de Deus ascende.
Então aquela vida disforme, puída,
se faz arrebatadora, como nunca antes,
diz ao universo poucas e boas,
despetala o medo, a inanição, o não,
diz a que veio numa hemorrágica unção.
dando luz à sua raça maior,
ilumina o palco, arrefece o chão
pra brilhar como nunca antes se quis.