GABRIEL
nunca soube ver as horas
contava dia claro e dia escuro
cada qual num lado da cabeça
numa torpe idéia de futuro
enquanto claro
declamava tolices de um coração iletrado
através de um sorriso tão puro em suas falhas
que parecia ter o dom de fazer levitar o pesado
no escuro
sussurrava uma canção antiga de quebrantar os ossos
e mexia os pezinhos de batráquio pra lá e pra cá
olhando fundo nos olhos daqueles que só falavam em destroços