RUAS QUE O MUNDO ESQUECEU
As velhas ruas hoje abandonadas
de endereços que a cidade esqueceu
são tão vazias e despovoadas
como terrenos baldios ignorados
em que só o mato cresceu
Na ruína que o tempo não varreu
postes desgastados e enferrujados
iluminam de sombras caminhos
onde antes vizinhos se encontravam
namoros então começavam
e crianças desfrutavam o verdô das idades
em meio a ingenuidade das infantilidades
que há muito já desapareceu
Casarios derrotados olham calados
o cenário desolado das calçadas
com saudades dos ocupantes faltosos
que se perderam no alongamento das estradas
ou ficaram soterrados sob o escombro das décadas
no qual estão enterrados na areia dos anos
e na desmemória do sol, da lua e das estrelas
Nas noites caducas das ruas engelhadas
por dentro das ossadas das casas descascadas
no descavado desmobiliado se ouvem bulícios
que as paredes assopram como se fossem
pequenos chiados que vem dos gemidos
do fundo de lá de dentro onde fantasmas
e vagas sombrações não despejadas
saudosas sonham com passados
que o mundo um dia se desprendeu