DOS PEQUENOS INTENTOS DO CIDADÃO MÉDIO
Desgostos amealhados em quantidade
e nem meio dia se deu no relógio bege.
Tão bege quanto são a alegrias do dia,
diluídas em espinhosos momentos de tédio.
Nem era pra se escrever tais desinteresses,
grávidos que são de insignificância e feiura.
Mas o que sobra para além do ajambrar dos dias,
além do sabor dessalgado da vida requentada
que se cospe no asfalto e que frita solas de sapato?
Apegar-se assim, tão elegantemente à derrota,
é coisa que se espera do sucesso de uma vida média.
Cantar pela metade, já que o idioma nao foi suficiente,
e gozar em parcelas infinitas, sobre carne fria do adversário.
Quando o dia acaba, acabam-se a fatalidade e a honra,
recolhendo-se à castelos cafonas de muros mofados,
reis de coisa nenhuma e senhores da flacidêz.
Os pequenos tesouros, futuros fracassos bípedes,
serão o orgulho e a desgraça com horas contadas,
revirando os olhos com deslumbre para os maneirismos,
implorando que qualquer que seja o Deus da ocasião,
os retire desse mundo gasto, ulcerado e enferrujado.