AH! ESSES FILHOS...
Filhos, ah! esses filhos,
todos saem do gozo, do intento, do repente,
mas o chão os deixa de cada jeito...
Alguns ficam réplicas fiéis dos autores,
pelo menos no invólucro, em certos detalhes,
em certos cantos, varandas e masmorras.
São dignas esculturas ecoadas da raiz.
Outros, ah! esses outros,
viram criaturas que abdicaram dos criadores,
ficam de alma virada, de coração razinza,
de sangue avesso.
Jogam fora a receita original com prazer sublime.
Mas todos são frutos, querendo ou não,
todos têm assinatura de Deus,
mesmo como grotesco rabisco.
Como se Deus temesse em dar crédito,
constrangido de se sentir respingado neles,
por tantinho que seja.
Assim vão passando pelos dias à margem da estrada,
repugnam o respeito, a harmonia, a cordialidade,
o querer-bem ao entorno.
São bestas-feras ensandecidas.
Ficam rançosos, ressabiados, trasteados.
Mas sendo também frutos, sempre dá pra reverter o gosto,
o trato, o sentido do rio, o rufar do vento.
Pra voltarem à brilhar rimados aos autores,
como as mais reluzentes estrelas que o universo já pariu.