MEU POMAR DE QUITUTES
Envelhecer avistado de longe assusta, incomoda, inquieta,
irradia medos a granel.
Se imaginar de ossos quebradiços, de vontades com rédeas
e o fim dando o ar da sua graça, faz tremer o chão.
Quando se banha na fonte da juventude,
a possibilidade dos anos se amontoarem é só miragem,
mero devaneio, plena alucinação.
Mas a velhice é matreira, vai deixando suas garras
adentrarem aos dias sem pressa, nem alarde,
sem pedir licença.
Vai se fazendo emergir com cara inocente, jeito desleixado.
na moita.
Pra de repente dar o bote.
Amotina a alma e vira dona do pedaço,
de todos os pedaços.
Daí, numa belo dia, acordamos esparramados
numa velhice aguda, afinada, aguçada.
E sábia, bem sábia.
Velhice de peito aberto, desprendida,
absurdamente rainha.
Então de nada valerão os protestos,
inócuos serão os ventos contra,
de festim serão os gritos de socorro.
Mal sabíamos nos tempos de mocidade
que essa seria a melhor pele da vida.
A mais gostosa degustação do caminhar.
O mais delicioso pomar de quitutes a se deliciar
até a saciedade chegar.