ONTEM, HOJE E AMANHÃ
todas as manhãs com pressa
escovo os dentes enquanto tomo banho
pensando no que não fui mas poderia ter sido
se não fosse tão soberbo e tão tacanho
perco a hora com a cabeça cheia de espuma
a escova presa entre os dentes e a mente como uma pipa
sai pela janela e se perde no céu de quase nove horas
quando batem na porta e a brisa se dissipa
todas as manhãs, com pressa,
me enxugo e me visto e me vejo no espelho
não penteeio os cabelos tampouco me barbeio
fico me encarando como se de mim mesmo esperasse um conselho
perdida a hora me resta o desconsolo
coletivos lotados o dinheiro contado numa das mãos
e a estranha sensação de que tudo não passa de teatro
não sei se encarno o doente ou o são