NUNCA MAIS
Alguns casamentos têm viço de aço, nunca rareia o gosto, a textura, a graça,
renascem a cada dia com fôlego de sobra, lastro a granel, eco farto,
tudo mais pra dar e vender,
Têm até invólucro de aço e âncora protegida pelo Criador.
Já outros, outros...
Descoloriram seu legado, descamaram sua alma, desencantaram seu rito,
ficam pálidos, mancos, andam só contrariados,
absurdamente cariados,
desanimam de untar, de atiçar, de trazer à luz.
Por vezes, ambas faces vigoram, ambos passos teimam em ser,
dependem do bafo da rotina pra brilhar ou morrer.
Assim vão empurrando com a barriga os dias,
escorando um no outro feito galho seco e trêmulo,
fingindo uma cumplicidade fajuta, febril, de placebo, de farsante,
supondo que são dois quando, de fato, são menos de um,
sexo vira miragem, desatino, desavença.
Isso irrita o céu, deixando-o rançoso, arredio, acuado,
até que numa hora um dos dois morre bem antes de morrer,
pois seu coração passa a bater congelado, atracado,
aquele amor de outrora acorda encardido, tripudiado,
atirado ao lixo.
Então só lhes resta reunir seus trapos e despedir da tropa,
pra seguir na vida e não olhar pra trás,
nunca mais.