Primavera Vermelha.
Poema - A Primavera Vermelha
Recordo dos meus tempos de juventude na União Soviética,
da primavera sempre vermelha e plana .
Nos arredores de Leningrado.
Tenho saudades de meus pais e de nossa casa,
E do horizonte pleno e das vastas campinas
Levantando um doce aroma das flores nos campos.
Apesar de fechados para o mundo numa ditadura militar,
Eramos felizes e tínhamos comida na mesa.
Onde homens e mulheres tinham na Velha Usina
Emprego e dignidade .
Recordo das saudações à bandeira soviética,
E de nossa rica história com Lênin e depois Stalin
Onde saudavamos à Grande Pátria com orgulho e devoção.
Lembro que na adolescência perto de Leningrado
Dançavamos uma valsa lenta com as garotas
Antes de sermos convocados para uma guerra.
Mas a Guerra Fria contra o ocidente mudou tudo,
Onde vivíamos regidos sobre uma ditadura
Controlados a mão de ferros pelos antigos czares.
E tudo ficou mais difícil depois daquela época,
Não tenho saudades daquela primavera
Que marcou minha adolescência com fome, medo e dor.
De uma federação sovietica mergulhada no caos,
Vítima de seus czares
Loucos e insanos numa guerra contra o ocidente.
Lembro que eles mancharam nossas ruas de vermelho,
Todos aqueles que eram contra o sistema.
Lembro com dor daquela triste primavera vermelha,
Quando soldados adentraram minha casa e levaram meus irmãos...
De quando praticamente fomos expulsos de nossa terra ,
Partindo rumo ao ocidente em busca de uma vida melhor.
Lembro de meu pai se alistando no exército,
Para lutar não pelo país mas pela família.
De nosso adeus no porto de Moscou .
Recordo das manhãs primaveris sempre em tom de vermelho,
E quando cheguei na América e me acolheram tão bem.
Trago na íris a queda do regime soviético,
Assistindo ao vivo na TV a queda do muro de Berlim,
Das pessoas pulando de felicidade pelas ruas
Pelo fim do regime soviético.
Não tenho orgulho de meu passado tão sofrível,
Mas tenho orgulho de ser um sobrevivente,
Rezando para que a Grande Mãe Rússia prospere em liberdade.
Tenho orgulho desta nova geração de russos
Tão antenados, tão independentes e felizes
Lutando em busca de redenção para nosso país.
De voltar a ter orgulho de gritar nos Jogos Olímpicos
Em nome da Grande Mãe Rússia.
Relembrando nossos antepassados, mas enterrando todo o fascismo daquele tempo insano.
E depois de tanto tempo vejo velhos fantasmas renasceram,
Naquela louca e insana guerra contra a Ucrânia,
Onde Putin parece não ter aprendido nada.
Fantasmas que ousam manchar nossa rica história,
Nesta guerra sem sentido nenhum
Onde Stalin e Lênin devem se Revirar em seus túmulos.
Apenas para manchar de vermelho nossa primavera
Com o sangue de inocentes e civis.
Não é uma guerra justa, mas louca e sem sentido
Manchando e Envergonhando meu velho uniforme .
Da qual um dia lutei em busca de liberdade ,
E me afungentei na América para ter alguma chance de sobreviver
E escrever estas palavras de esperança de que um dia tudo seja diferente.
Sei que vivo meus últimos dias nesta cidade que me acolheu tão bem,
Mas escrevo estas palavras para que meus filhos e netos
Saibam que lutei em prol de nossa liberdade.
E que eles saibam que as manhãs primaveris são lindas na Rússia
Pedindo que lutem e enterrem de vez velhos fantasmas que ousam manchar meu nome e da Grande Mãe Rússia.
Autor O Amante das Palavras.