a dor como se ela pudesse ser dor
a dor não é uma ferida
ou o abraço amputador de
algum sonho.
a dor não é amiga, nem inimiga
apenas é, e faz o que sua
alma manda: dói.
Primeiro, jovem ofegante
de novidade , a dor é um alfinete
quase sem nome,
Escola, a primeira grande
solidão, rostos, gritos,
a hora do recreio, ela. a
dor ainda sem rosto dá
seus primeiros estalos,
na adolescência, ela também
jaz presente, mas também
adolescente, porque do mesmo
lugar que a dor brota, brota
o prazer mais suculento que
sentiremos da vida,
trabalho, casamentos, afastamentos
a morte, que antes era exceção,
compreendemos a dor como
reverso do sol que nos adoça,
(tudo tem seu reverso na oculta
coluna que sustenta as estrelas)
chega o dia que finalmente sabemos
que o mais essencial já passou
vivemos dos cacos e da esperança
de nos reencontrar, então já
não ligamos para dor, embora
ela corre no sangue e chega
ao coração como uma brasa
sempre acesa.
Cansados, quase
enfarados, a janela se abre
e o vento nos conta, sem dor
não há prazer, passamos a ser
uma coisa só, como um sol
numa vagina vertiginosa,
sempre a pulsar que como
uma onda vai arrebentar até
que a calmaria completa é chamada
por outro nome.