Fagulhas de Ardósia
"Ordeno meus pensamentos,
onde toca o tango,
faço uma pedra
bem afeiçoada,
pedra bem ao gosto,
amarrotada pelo tempo,
esquecida no embrulho
da montanha.
Pedra que me faz pedra,
gente que me atiça adiante,
com fagulhas de ardósia,
criam uma moldura azul-afogueada,
e fazem passos de um só homem
de uma vontade sem levantes.
Na vida, tudo amarroada!
Procuro lembranças dela
no pôr-do-sol,
onde desfila na vitrine
das despedidas.
Mas, se hoje sou eu que me perco
de saudade e sem vida,
a procura da moldura dela,
amanhã será você,
a procurar a verdade de tudo.
Mais virá tarde:
virá pedra sobre pedra,
na ardósia da vida,
onde nada restou, senão pó,
de nosso grande amor gratinado
que só de adeus - sem Deus - viveu!"