INTERMITÊNCIAS

Vivo em um intervalo

às vezes breve outros dilatados

Estou sempre no lapso

entre aquilo que não escrevi

e aquilo que nunca escreverei

Não há dia em que sequer

não esteja a ler as letras miúdas do mundo

decifrando a caligrafia desalinhada de se viver

A vida é um renovável mistério

sempre pronta a nos surpreender

e quanto menos se espera

ela se evapora sem ninguém ver

Por isso me agarro aos instantes

em que duro como se nunca fosse morrer

e na imortalidade do flagrante passageiro

vivo quem fui e quem ainda posso ser

Sou um entrelaçado de hiatos

vestido de gente

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 28/08/2022
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