INTERMITÊNCIAS
Vivo em um intervalo
às vezes breve outros dilatados
Estou sempre no lapso
entre aquilo que não escrevi
e aquilo que nunca escreverei
Não há dia em que sequer
não esteja a ler as letras miúdas do mundo
decifrando a caligrafia desalinhada de se viver
A vida é um renovável mistério
sempre pronta a nos surpreender
e quanto menos se espera
ela se evapora sem ninguém ver
Por isso me agarro aos instantes
em que duro como se nunca fosse morrer
e na imortalidade do flagrante passageiro
vivo quem fui e quem ainda posso ser
Sou um entrelaçado de hiatos
vestido de gente