ASSASSINATO NA RUA DAS ACÁCIAS
Ela achou que nunca mais o veria.
Embora confuso e abstraído
não devolveu a perfumaria
não cogitou ser traído
Então pareceu simples.
Mas, após vinte dias,
circularam ameaças de notícias
de que o ex-namorado agiria
[com acinte.
A princípio, ela ignorou.
Jamais pensou que aconteceria.
Recebeu uma mensagem
de que a última passagem
por ele breve seria.
Dessa vez, ela temeu.
Mostrou à polícia o excerto
e medida protetiva requereu,
porém não lhe trouxe alívio
[o deferimento
Roberto estaria à espreita?
Quando saísse da loja,
quando voltasse para casa?
Angustiada, ela se deita,
enquanto ele pensa em sua cova
- se funda ou rasa.
Ele planeja o delito,
o instrumento, a execução.
Quer ouvir a dor, sentir seu grito...
apagar o sentimento de rejeição.
O oficial lhe deixa ciente
da ordem de restrição
com a qual assente, assina, rasga:
- Audácia dessa menina!
Amanhã não verá o sol poente.
A caminho do crime passional
circunspecto, focado
dirigiu-se Roberto
para pôr termo à história do ex-casal:
- Se não minha, será de mais ninguém!
Descumprida a medida judicial,
os tiros a aguardavam ao fim do expediente
no peito, cabeça e barriga
Paola caída, a vida vertente
Roberto fez sua justiça (Amém).
Não mais ecoa
o brado de Paola.
Curiosos fotografam o corpo
A perícia vai demorar
O feminicida esgueirou-se
Há dignidade na morte não.
[Sempre me perguntei
Quem limpa o sangue
Que fica no chão].