VERSO AOS AUSENTES
Quando a mesa era farta
sob o sol erguido na aurora da vida,
todos estavam presentes.
As crianças, alienadas,
rodopiavam ao derredor
como se o sol do tempo fosse um eterno visitante.
Quando a mesa era farta,
cheia de promessas infinitas
todos estavam presentes
a desfrutar das estendidas dádivas
das mãos nunca ausentes.
Algumas vaidades se sentavam ali
certas da sua infinitude soberba...
a bebericar do melhor vinho
a degustar as delícias do tudo
que não oferece esforço algum;
Presenças ausentes...
mais interessadas em tirar
do que em colocar um sopro de alento
para o futuro que correu como as crianças que já não são.
Quando a mesa era farta...
nunca houve atrasos.
A pontualidade do receber
Obrigava a presença pontual
para os prazeres que regem
todas as embriaguezes das horas.
Já para as doações,
as ausências sempre se somam.
Os olhos se fecham
e o dorso plural dos interesses já não satisfeitos
se mostra cáustico como ácido no tempo
para todas as mãos, altruístas mas incautas
que pouco souberam o que é receber.
Quando a mesa era farta
toda a hipocrisia estava lá presente,
adornada de brilhos já ofuscados
para assinar a lista dos futuros abandonos.
Gente fantasiada...de tudo!
Sob a noite das existências que só sabem sugar,
tão apequenadas
quanto todos os vazios que seguem nus...
Com falsos reis...
trajados com presença do nunca se ter doado,
só subtraído.
Ausências do nunca se ter sido.