Virgílio, meu pai
Meu pai era Virgílio
Não aquele dos romanos
Poeta de altos planos
Mas o nascido em Cachoeiro de Itapemirim
Descendente de alemães
Criado entre aldeãs
Uma delas sua mãe
Meu pai saiu um dia
E se alistou na expedição
Dos que iam lutar na guerra
Enfrentou em seu navio
A perseguição do inimigo
Depois foi para o Rio de Janeiro
A soberba capital
Trabalhar noite e dia
Sem nada especial
Atendente de mercado
Ou outra ocupação
Que pudesse fazer
Com a força de suas mãos
Virgílio meu pai
Passou pelo mundo
Como passam os que trabalham
Lutando pela vida
Acreditando num dia melhor
Pegando as migalhas
Deixadas pelo capital
Sorrindo de vez em quando
Me deixou como herança
Os mesmos olhos azuis
Com os quais saúdo o novo dia
Olhando o azul de céu
Catando poesia
Entre a poeira da rua
Também tento pegar
Minhas migalhas
Sorrindo de vez em quando
Saudando a Virgílio
Meu pai