POEMA DO MEU VELÓRIO

A gente não veio aqui para permanecer:

O existir nessa sina é mero e transitório

Por isso me pergunto como vão ser

As circunstâncias de meu próprio velório?

Haverá entre todos alguém tão transtornado

Que em vez de pêsames, dará parabéns?

Terão os credores deste poeta endividado

Coragem de confiscar meus ralíssimos bens?

Mas antes do corpo descer à última morada

Eu quero que minha alma assista, extasiada

Ao estranho espetáculo de meu último desterro.

Só pra ver quem por mim sinceramente chora

Ou quem fala de mim, fingindo que me adora:

Um morto patético assistindo ao próprio enterro...

*Poema antigo.