AURORA
Lílian Maial
É por essa paz que se revela na claridade,
quando a manhã atravessa a janela,
que não ouso profanar teu corpo.
A luz chega na suavidade - quase súplica –
de desvendar os versos inscritos na tua pele.
Um perfume de saudade do que nunca foi tocado.
O tom róseo se confunde com nuanças do robe entreaberto,
num apelo de carícias e tormentas.
Ali, como um filhote entregue, uma criança sem medo,
um coração imaculado.
Assim é teu corpo em espera,
desfolhado pela alvura do amanhecer,
no frescor do cálido entender da alvorada.
Assim te quero despertar,
com a singela revoada de pássaros brancos que me habita,
com o encontro de olhos de horizonte,
que me buscam no espelho d’água,
e a leveza de sentir o tempo sob o veludo.
E que tua boca me sobrevoe
com o sabor da névoa orvalhada que se anuncia.
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