Aonde quer que eu vá
Num corte profundo/
Vejo as veias desse mundo/
Latejar na sarjeta/
Tanta dor doendo/
Tantos sonhos partindo/
Não é só a visão/
Que incomoda/
Mas a falta de ação/
Todos os dias nos centros/
Pessoas expõe suas misérias/
Não é só a fome/
Nem filhos sem nome/
Mas a carência do homem/
A insensibilidade/
Algo que já não se consegue ver/
Porque como normal/
Temos que ser indiferentes/
Porque como tradicional/
Temos que deixar de ser gente/
Pra ter posição/
Pra mudar de lugar/
Pra não acrescentar/
Pra esquecer/
Jogar um ou dois trocados/
Pra deixar a consciência onde está/
Se eles nunca se ajudaram/
Se eles infestam a sala de jantar/
Qual é o meu papel/
Nessa ceda/
Sou o que penso que sou/
Porque o padrão nos denomina/
Se eu não for o senhor da cidade/
Quem sabe roqueiro militar/
Quem sabe um servo/
De alguma paróquia/
Escalado pra debutar/
Nada é perfeito, pra durar/
Mas tenho que mudar/
Não posso só culpar/
Não vim pra julgar/
Mas acho que vim pra acontecer/
E você/
O que te faz pensar/
Olhe sua criança correndo na praça/
Que um dia foi sua/
Mas amanhã você não estará lá/
Enquanto há um segundo/
Juntemos as mãos da ciranda/
Vamos sonhar/
Vamos fazer a fogueira/
Quem sabe regar a roseira/
De todos os quintais/
Porque só é feliz quem aprendeu a amar/
Então antes que tu me mates/
Eu só queria aprender a sorrir contigo/
Porque não tem sentido/
Andar nessa estrada/
Com o pescoço e as mãos cheias de ouro/