UM MINUTO ANTES DA NOITE
No cochilo das árvores
as folhas sonham ser flores
e a tarde passa por cima das copas
sem perturbar o sossego das folhagens
Nas ruas faróis se acendem
no diminuir da velocidade dos carros
enquanto nas calçadas pés alvoroçados
pisoteiam os segundos agitados
como se fossem bitucas de cigarros
Nas cinzas do queimar da tarde
sonhos buscam voltar às camas
ao mesmo tempo em que o sol se põe
expondo a noite que se escondia
por detrás do véu azulado do dia
Os postes madrugam mais cedo que os gatos
que nos cantos dos becos desalumiados
onde todos são encardidos e pardos
aguardam o regressar dos próximos ratos
Nos botequins da cidade
alguns alongam o sepultar das horas
retardando o reencontrar com o trinco das portas
que os separam das realidades das casas
e das sequidões apáticas dos quartos
Em um lugar neste instante
nem sempre assim tão distante
alguém se despede da vida
enquanto um outro amanhece e se cria
e os demais apenas esperam
depois das novelas e das preces
e o cerrar solene das pálpebras
no apagar de mais um escapado dia