ÍNTIMO

Agora,

chove.

Cada gota

cai como agulha

(fagulhas de choro

do Deus).

Eu estou na minha casa

alugada (não é minha)

mas estou.

O cachorro rosna alguma coisa

que não denuncia

sua exata intensão;

o outro cachorro

responde com outro rosnado.

Eu nado

no mar da imensidão

da poesia.

Um carro, na rua,

anuncia algo.

Nem se eu quisesse!

Dinheiro parco...

Um barco

num oceano

é um ponto invisível

na imensidão

do infindo mundo.

Nenhum tecido se rasga,

nem de alto,

nem abaixo.

Não há ladeira

e nem escada

para o céu...

Eu tomo minha cerveja barata

e fumo um cigarro

do Paraguay.

Ao longe, o trem apita.

Nem é tão longe:

logo ali.

(A linha

é de ferro;

eu, não.)

Shhhhhhhh...

A panela pegou pressão!

Enquanto isso,

na África,

aqui

e alhures,

crianças ainda

morrem de fome

sem lar

e sem nome;

comem

a miséria alheia

enredadas

na teia

dos homens.

E elas só queriam

um golinho de vida.

Chove...

Antônio Carlos Policer
Enviado por Antônio Carlos Policer em 09/08/2022
Código do texto: T7578882
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