ÍNTIMO
Agora,
chove.
Cada gota
cai como agulha
(fagulhas de choro
do Deus).
Eu estou na minha casa
alugada (não é minha)
mas estou.
O cachorro rosna alguma coisa
que não denuncia
sua exata intensão;
o outro cachorro
responde com outro rosnado.
Eu nado
no mar da imensidão
da poesia.
Um carro, na rua,
anuncia algo.
Nem se eu quisesse!
Dinheiro parco...
Um barco
num oceano
é um ponto invisível
na imensidão
do infindo mundo.
Nenhum tecido se rasga,
nem de alto,
nem abaixo.
Não há ladeira
e nem escada
para o céu...
Eu tomo minha cerveja barata
e fumo um cigarro
do Paraguay.
Ao longe, o trem apita.
Nem é tão longe:
logo ali.
(A linha
é de ferro;
eu, não.)
Shhhhhhhh...
A panela pegou pressão!
Enquanto isso,
na África,
aqui
e alhures,
crianças ainda
morrem de fome
sem lar
e sem nome;
comem
a miséria alheia
enredadas
na teia
dos homens.
E elas só queriam
um golinho de vida.
Chove...