Amor, sonhei um sonho uma vez mais;
Amor, sonhei um sonho uma vez mais;
por isso resmunguei quando acordei.
Que Cristo a minha mão tocou sonhei,
e sua carne parda era vivaz.
Nunca tocara palma mais tenaz
em toda a minha vida, nem mais quente.
E Cristo não me olhava indiferente.
Pelo contrário, amava-me deveras...
Aquele estranho olhar de mansas feras
eram leões curvados virilmente.
"Meu amigo", dissera-me o Senhor,
"vai andando ao meu lado, que te sigo."
"Mas como podes vir assim comigo,
sem saber meu destino pecador?"
E Cristo me sorriu encantador,
dizendo que pecado não havia
entre a nossa gigante companhia,
que éramos querubins de perfeição.
Ouvi mesmo chamar-me a mim de irmão;
irmão de alma, de sangue e até de lida.
Então eu resmungava, ao acordar,
palavras de amizade e boa-fé.
Nessa hora que te vi, franca mulher,
vendo-me retornado ao nosso lar,
quis tanto àquele sonho já voltar,
e tanto lamentei a luz do dia!
Pois o Senhor agora me diria,
tenho certeza disso, que sou vil
como o mais humilhado reptil,
rastejando entre a humana companhia.
Entre o deus de meus sonhos e o real,
tamanha diferença se coloca
que não sei como um ao outro evoca.
Mas quem sabe ao sonhar Jesus feral,
ao sonhá-lo sangrando raiva e sal,
esse Cristo me invada o coração
expulsando o que mora lá então...
... e Jesus verdadeiro venha ao mundo!
Quem sabe me abraçasse pudibundo
e desperto chamasse a mim de irmão...
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Finalizado dia 08/08/2022.