O CÉU DA MEMÓRIA

"O passado se conserva por si mesmo"

Henri Bergson

Nos silos da memória

armazeno lembranças

que nas noites estiadas do amanhã

em mim poderei cultivar

Minhas plantações são feitas de sementes

retiradas das horas passageiras

de onde que são criados os hojes

O passado é um enorme inchaço

acumulado de histórias

que do aqui-agora foram levadas

ao interior insaciável da alma

Quando mais saio do presente

e no seguinte logo estou

mais meu passado aumenta

se tonifica, robustece e engorda

O tempo em mim

é como um Cronos voraz

que tudo rói e devora

até o instante em que ele

ainda faminto e esfomeado

haverá de se engolir

ao deglutir meu derradeiro instante

Quando este último segundo virar passado

e eu desaparecer do atual e do vigente

vou viver para sempre

no invisível céu da memória

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 08/08/2022
Reeditado em 08/08/2022
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