O CÉU DA MEMÓRIA
"O passado se conserva por si mesmo"
Henri Bergson
Nos silos da memória
armazeno lembranças
que nas noites estiadas do amanhã
em mim poderei cultivar
Minhas plantações são feitas de sementes
retiradas das horas passageiras
de onde que são criados os hojes
O passado é um enorme inchaço
acumulado de histórias
que do aqui-agora foram levadas
ao interior insaciável da alma
Quando mais saio do presente
e no seguinte logo estou
mais meu passado aumenta
se tonifica, robustece e engorda
O tempo em mim
é como um Cronos voraz
que tudo rói e devora
até o instante em que ele
ainda faminto e esfomeado
haverá de se engolir
ao deglutir meu derradeiro instante
Quando este último segundo virar passado
e eu desaparecer do atual e do vigente
vou viver para sempre
no invisível céu da memória